17/03/2020

"O Acontecimento do Amor", de Dax Moraes - Editora da UFCSP

O Acontecimento do Amor’, lançado na última sexta-feira, 13, pela editora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, para download gratuito (https://ufcspa.edu.br/editora/download.php?cod=012&tipo=pdf), segue em um duplo movimento. O universo de sentimentos e experiências afetivas ou mesmo intelectuais é discutido a partir de uma concepção do amor que não o toma como algo meramente subjetivo, mas, sim, como uma (pré)disposição que modula a relação do ser humano com cada coisa e cada pessoa que o rodeia. Amor e desamor são como lentes por meio das quais se vê o mundo, acolhendo-o ou reagindo a ele. Memória e esquecimento, tédio e angústia, cuidado e atenção, são algumas das experiências cruciais envolvidas e largamente resignificadas. O próprio curso do tempo subjetivo supõe essa relação. Temas polêmicos como suicídio e relações com animais também entram em consideração com argumentos pelos quais, por exemplo, não se morre por amor nem se pode obter ou dar ao que não é humano, seja um deus, seja um ser irracional, aquilo que apenas no mundo humano tem sentido. Amor e desamor também nos abrem ou nos fecham ao que é humano e não humano. Para tanto, a vivência é a fonte em virtude da qual toda reflexão e toda arte recebem seu lugar de destaque. Aqui, diferente do volume precedente, ‘História Filosófica do Amor’, o destaque é dado ao diálogo com a contemporaneidade como plano de fundo ao que há de ser dito. Um repensar da existência que pôde encontrar luz mesmo em personagens de García Márquez ou Mílan Kundera. O outro lado do movimento consiste na veemente desconstrução das velhas (e algumas novas) narrativas sobre família, gênero, natureza, casamento, maternidade/paternidade, além de decifrar dilemas como o dos amores simultâneos, pretensos substitutos e assim por diante. Amor sem lei e sem deus, sem promessa e sem história, apresentado neste livro como o que pode ser: possibilidades de amar sempre em aberto, apostas sem nada a perder quando vividas de modo profundo e verdadeiro, não para outrem, mas para si mesmo, amor que se ama só, e nada cobra de ninguém.

Abaixo um trecho do livro para contracapa:

"[...] não estou fazendo ‘história da filosofia’, mas explicitando ao leitor como cheguei à filosofia do amor aqui prenunciada. Afinal, se meu propósito aqui não é ‘ensinar filosofia’, pontuar interpretações ortodoxas e contrastá-las simplesmente com outras possíveis leituras, não é a consistência entre as doutrinas o que defendo. Em verdade, defendo modos de pensar que são, ao menos em parte, favoráveis a uma compreensão filosoficamente adequada do amor, contrastando-os com modos de pensar que dificultam ou mesmo impedem semelhante compreensão, antes ratificam preconceitos consolidados no senso comum, nas ciências, na própria filosofia em geral, especialmente na Metafísica e na Ética legadas pela tradição. A História da Filosofia não aparece como um corpo rígido de doutrinas que nos cabe reproduzir com uma fidelidade absoluta e ao mesmo tempo impossível, mas, sim, como inumeráveis caminhos de pensamento que se oferecem milenarmente à nossa escuta. Nesse sentido, este livro consiste no testemunho do que pude ouvir desses pensamentos em meu próprio caminho."