Tradução de Les Maladies de la Personnalité (Théodule Ribot), por Wilson Antonio Frezzatti Jr.

08/04/2021 • GT Nietzsche

AS DOENÇAS DA PERSONALIDADE

Les Maladies de la Personnalité (1885)

Théodule Ribot

Tradução: Wilson Antonio Frezzatti Jr.

São Paulo: UNIFESP, 2020. (Coleção Sendas & Veredas / série Fontes)

Não sabemos com certeza quais os textos de Ribot que foram lidos por Nietzsche. Embora consideremos ser impossível refazer toda a trama de influências sobre o pensamento nietzschiano, podemos encontrar, na obra do filósofo alemão, várias semelhanças teóricas com os textos de Ribot, entre outras: o “eu” como um complexo dinâmico; a continuidade entre o físico e o espiritual; a consciência como produto do desenvolvimento orgânico; o projeto de uma nova psicologia; a decadência cultural causada por doenças fisiológicas. De alguma forma, Nietzsche estava inserido em um projeto de transformação dos modos de conhecimento e de entender o mundo, o homem e a cultura, e especialmente no contexto francês da psicofisiologia.  As doenças da personalidade, publicado em 1885, é o último livro da trilogia sobre doenças psicológicas, que já havia investigado as desordens da memória e da vontade. Ribot aborda os vários tipos de doenças da personalidade para esclarecer como a evolução construiu algo tão complexo como a personalidade e a individualidade humanas. Em todos os casos, inclusive o normal, os estados psicológicos remetem a estados físicos.

 “A unidade do eu é aquela de um complexo, e é apenas por uma ilusão metafísica que se atribui a ela a unidade ideal e fictícia do ponto matemático. Ela não consiste em um ato de uma ‘essência’ pretensamente simples, mas em uma coordenação de centros nervosos que representam, por sua vez, uma coordenação de funções do organismo. [...] [O eu] oscila entre estes dois pontos extremos em que ele deixa de existir: a unidade pura e a incoordenação absoluta. Todos os graus intermediários são encontrados de fato, sem demarcação entre o sadio e o mórbido: um sobrepõe-se ao outro.